Mais de uma centena de proprietários de imóveis no bairro
Petrópolis participaram, na noite desta quinta-feira (10/4) de Reunião Pública
realizada pela Câmara Municipal de Porto Alegre para debater a inclusão de mais
de 500 imóveis no Inventário do Patrimônio Cultural de Bens da capital. No
encontro, realizado na sede do Petrópole Tênis Clube e coordenado pelo
presidente do Legislativo, vereador Professor Garcia (PMDB), moradores mobilizados
reafirmaram aos parlamentares e técnicos da prefeitura a sua indignação pela
forma como o processo foi desenvolvido. Eles pediram a revogação da notificação
emitida no dia 22 de janeiro no Diário Oficial de Porto Alegre e o congelamento
do processo para maior debate com a população da cidade.
A maior reclamação dos proprietários é a falta de
transparência e publicidade dos atos praticados, pelo fato de que a vistoria
nos imóveis e a publicação da listagem dos incluídos no Inventário tenha sido
feita no período de férias, e apenas no Diário Oficial. Ainda outros erros no
processo foram apontados, como endereços inexistentes, desaparecimento de imóveis
inicialmente listados no Inventário e contradições claras de que não houve um
critério técnico preciso para a realização do trabalho.
De acordo com Angélica Crusius, arquiteta e secretária da Associação
dos Moradores do Bairro Petrópolis, há uma contradição com a própria
legislação, já que o ambiente correto para a preservação cultural e histórica
de um ambiente urbano deveria ter sido feita no Plano Diretor. Entre os erros
técnicos apontados por ela, está o caso de uma residência de dois pavimentos
que possui numerações diferentes para cada piso, sendo que o térreo entrou na
lista e o andar superior foi incluído no Inventário. Outra situação, “no mínimo
estranha”, disse a arquiteta, é o “sumiço” de quatro endereços na segunda
listagem apresentada pela prefeitura, “sendo um deles de integrante do Conselho
Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Compach)”, órgão que emite
parecer sobre a inclusão dos bens listados no Inventário.
Entre as propostas discutidas no encontro, o projeto de lei
do vereador Idenir Cecchim (PMDB), que leva para o Legislativo a autorização
para a inclusão de bens no Inventário, recebeu o apoio da comunidade presente. De
acordo com autor da matéria, “há a necessidade de a decisão passar pelo crivo
dos vereadores, que representam o conjunto dos cidadãos, para evitar que esse
pessoal do Compahc e Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) cause
surpresas como essa que fizeram no mês de fevereiro, quando todos estavam na
praia”, disse.
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro
Petrópolis, Fernando Molinos Pires Júnior, destacou que a comunidade já e
vitoriosa pela mobilização que está fazendo. “Essa reunião é um exemplo de
democracia, o que, infelizmente, faltou nesse processo”, disse. Ele lembrou que
a prefeitura, ao escolher imóveis que foram listados e desvalorizam cerca de 70%,
e outros que ficaram de fora do documento e valorizaram mais de 100%, presta um
desserviço à sociedade ao "jogar vizinhos contra vizinhos”.
Molinos ainda alertou para o risco de saúde que correm
pessoas idosas que moram sozinhas em seus imóveis e estão bastante abaladas com
a situação e a forma autoritária como o processo vem sendo conduzido. "Não
houve notificação individual e muitos desconhecem que o imóvel está no
inventário". Ele completou que a comunidade não é contra o processo de preservação,
mas quer a possibilidade de “diálogo, transparência e respeito”, lembrando que
para muitos o imóvel é o único patrimônio e a “poupança imobiliária de toda uma
vida”.
Base técnica
De acordo com o representante da Secretaria Municipal da
Cultura (SMC), Luis Custódio, não houve qualquer interferência politica no
trabalho realizado pelos técnicos do Executivo. Ele explicou como se deu o
processo, que se baseia em dispositivos constitucionais de preservação do
patrimônio histórico e cultural. Disse que o secretario da Cultura apenas
atendeu ao artigo 7º, parágrafo 4º da Lei Complementar 601 de 23 de outubro de 2008, criada a partir de projeto da vereadora Sofia Cavedon (PT), que, entre outros pontos estabelece que "as
edificações inventariadas de Estruturação não podem ser destruídas, mutiladas
ou demolidas, sendo dever do proprietário sua preservação e conservação". Custódio disse ainda que o prazo para recurso
por parte dos proprietários ainda está em vigência, tendo sido prorrogado até o
dia 18 de maio, “exatamente por ter havido uma série de reclamações quanto ao
período em que foi publicada a lista no Diário Oficial”.
Presente ao encontro, a procuradora do município Andrea
Vizotto destacou que por parte da PGM todas as manifestações dos proprietários serão
analisadas. Segundo ela, “se erros processuais, técnicos e jurídicos forem
encontrados, eles serão revistos”. Na mesma linha falou o representante da
Secretaria Municipal de Urbanismo, Rafael Laranjeira. Ele destacou que o
município estava ali para ouvir as demandas dos moradores e buscar um
entendimento para que os conflitos fossem sanados.
Ao final do encontro, ficou definido que um documento será
elaborado e entregue ao prefeito em audiência que será intermediada pela
presidência da Câmara Municipal. De acordo com o vereador Professor Garcia, o
prefeito será informado de todos os detalhes da reunião para poder construir
juízo sobre a situação. Também o projeto do vereador Idenir Cecchim deve ser
priorizado na Ordem do Dia, assim como outro, citado pelo representante da SMC,
que regulamenta dispositivos do PDDUA, que tratam sobre a matéria.
Participaram do encontro ainda, além de Garcia e Cecchim, os vereadores Valter Nagelstein (PMDB), Reginaldo Pujol (DEM), Sofia Cavedon (PT), Mauro Pinheiro (PT), Alberto Kopittke (PT) , Fernanda Melcchiona (PSOL) e Alceu Brasinha (PTB).
Texto: Milton Gerson (reg.prof. 6539)
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)
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